"(...)
Temos facilidade para amar o outro nos seus tempos de harmonia. Quando
realiza. Quando progride. Quando sua vida está organizada e seu coração
está contente. Quando não há inabilidade alguma na nossa relação. Quando
ele não nos desconcerta. Quando não denuncia a nossa própria limitação.
A nossa própria confusão. A nossa própria dor. Fácil amar o outro
aparentemente pronto. Aparentemente inteiro. Aparentemente estável. Que
quando sofre não faz ruído algum.
(...)
É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é
farto, e o chopp é gelado. (...) É fácil
amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nos
encontros erotizados, nas festas agendadas no calendário do de vez em
quando.
(...)
Difícil é amar quando o outro repete o filme incontáveis vezes e a gente não aguenta mais a trilha sonora. Quando se enreda nos vícios da forma mais grosseira e caminha pela vida como uma estrela doída que ignora o próprio brilho. Quando se tranca na própria tristeza com o aparente conforto de quem passa um feriadão à beira-mar. Quando sua autoestima chega a um nível tão lastimável que, com sutileza ou não, afasta as pessoas que acreditam nele. Quando parece que nós também estamos incluídos nesse grupo.
Difícil é amar quem não está se amando. (...)" Texto de Ana Jácomo.
